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sexta-feira, 2 de maio de 2025

Castor: uma dança cósmica


 



🔭 Quando olhamos para o céu noturno, em busca das estrelas mais notáveis, poucos apontariam de imediato para Castor. Ela está lá; é uma das duas cabeças da constelação de Gêmeos. É visível a olho nu, brilhando com magnitude 1.6 — o suficiente para se destacar entre suas vizinhas, mas não tanto a ponto de roubar a cena das mais famosas. 

Castor aparece na constelação ao lado de Póllux, sua companheira aparente no céu. Juntas, representam os gêmeos da mitologia que dão nome à constelação. Mas há uma ironia cósmica aí: enquanto Póllux é uma estrela única e relativamente tranquila, Castor é tudo, menos simples.


Castor, de onde vens?


®Wikipedia
Castor se encontra na constelação de Gêmeos, visível em noites claras, especialmente nos meses de dezembro a março no hemisfério sul. Apesar de ser a segunda mais brilhante da constelação, à primeira vista, não há nada de extraordinário. O nome “Castor” vem da mitologia grega, e nada tem a ver com aquele simpático roedor que constrói diques - isso é apenas uma coincidência com o nome do animal na origem latina.

Na mitologia, Castor e seu irmão Póllux eram os Dióscuros, filhos da rainha Leda. Castor era mortal e Póllux imortal, pois tinham pais diferentes — Castor era filho de Tíndaro (rei de Esparta), e Póllux era filho de Zeus, que, em forma de cisne, havia seduzido Leda. Portanto, apesar de serem gêmeos, um podia morrer e o outro não.

Quando Castor morreu, Póllux implorou a Zeus que o deixasse dividir sua imortalidade com o irmão. Zeus atendeu, colocando os dois no céu como a constelação de Gêmeos — daí os nomes das duas estrelas principais: Castor e Póllux.


A aproximação reveladora


® SpaceEngine: vista a partir de Castor Bb
® SpaceEngine: vista a partir de Castor Bb, Castor Ba e Castor Aa ao fundo

Por milênios tudo que se viu foi um ponto brilhante, estável, aparentemente solitário. Mas à medida que nos aproximamos com a ajuda da tecnologia — telescópios cada vez mais potentes, espectroscopia e medições precisas de movimento — começamos a desvendar a verdadeira natureza de Castor.

Primeiro, descobrimos que aquela estrela é, na verdade, um par. Duas estrelas orbitando um centro comum, separadas o suficiente para que bons telescópios consigam resolver essa duplicidade: Um sistema binário.

Mais adiante, com a ajuda de análises espectroscópicas, percebemos que cada uma dessas estrelas, por sua vez, também é um par. Suas assinaturas espectrais revelam movimentos de vaivém típicos de estrelas em órbita mùtua — pares espectroscópicos, invisíveis a olho nu, mas evidentes para a ciência. Agora já são quatro estrelas.

Por fim, um terceiro par, bem mais distante, expande a visão dessa dança. Trata-se de mais um binário, também invisível sem os instrumentos certos. Assim, o que parecia uma única estrela a olho nu revela-se, aos poucos, um sistema estelar sêxtuplo — três pares de estrelas gravitacionalmente ligados, compondo um dos sistemas múltiplos mais interessantes do céu visível.
A hierarquia de Castor


® SpaceEngine: Esquema do Sistema


Essas seis estrelas formam um arranjo hierárquico e delicado:
  • Baricentro do Sistema
    • Baricentro Castor AB: período orbital: 460 anos
      • Baricentro Castor A: período orbital do binário: 9,2 dias
        • 🌟 Estrela Castor Aa - A: branca da sequência principal
        • 🌟 Estrela Castor Ab - Anã vermelha
      • Baricentro Castor B: período orbital do binário: 2,9 dias
        • 🌟 Estrela Castor Ba - A: branca da sequência principal
        • 🌟 Estrela Castor Bb - Anã vermelha
    • Baricentro Castor C: período orbital estimado: 14 mil anos, período orbital do binário: 19 horas
      • 🌟 Estrela Castor Ca - Anã vermelha
      • 🌟 Estrela Castor Cb - Anã vermelha



Um balé em torno do invisível

Todos esses movimentos são regidos por um ponto comum: o baricentro, ou centro de massa. Diferente do que ocorre com a maioria dos planetas e luas do sistema solar (onde o centro está dentro do corpo do objeto principal), no sistema Castor, o baricentro de todo o sistema assim como dos subsistemas estão fora de qualquer corpo visível, pairando no espaço vazio. É em torno desses pontos que se desenrola a complexa dança gravitacional das estrelas de Castor.

Castor nos ensina que o céu guarda segredos que só se revelam a quem olha com mais atenção. À primeira vista, uma simples estrela em Gêmeos. Mas para quem insiste, pergunta e investiga, ela se revela como um intricado sistema de seis sóis — um lembrete de que, no Universo, nada é tão simples quanto parece.


® https://en.wikipedia.org/


Agradecimento: ® Núrya Ramos, revisão e apoio


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