🔭 Quando olhamos para o céu noturno, em busca das estrelas mais notáveis, poucos apontariam de imediato para Castor. Ela está lá; é uma das duas cabeças da constelação de Gêmeos. É visível a olho nu, brilhando com magnitude 1.6 — o suficiente para se destacar entre suas vizinhas, mas não tanto a ponto de roubar a cena das mais famosas.
Castor aparece na constelação ao lado de Póllux, sua companheira aparente no céu. Juntas, representam os gêmeos da mitologia que dão nome à constelação. Mas há uma ironia cósmica aí: enquanto Póllux é uma estrela única e relativamente tranquila, Castor é tudo, menos simples.
Castor, de onde vens?
®Wikipedia |
Na mitologia, Castor e seu irmão Póllux eram os Dióscuros, filhos da rainha Leda. Castor era mortal e Póllux imortal, pois tinham pais diferentes — Castor era filho de Tíndaro (rei de Esparta), e Póllux era filho de Zeus, que, em forma de cisne, havia seduzido Leda. Portanto, apesar de serem gêmeos, um podia morrer e o outro não.
Quando Castor morreu, Póllux implorou a Zeus que o deixasse dividir sua imortalidade com o irmão. Zeus atendeu, colocando os dois no céu como a constelação de Gêmeos — daí os nomes das duas estrelas principais: Castor e Póllux.
A aproximação reveladora
Por milênios tudo que se viu foi um ponto brilhante, estável, aparentemente solitário. Mas à medida que nos aproximamos com a ajuda da tecnologia — telescópios cada vez mais potentes, espectroscopia e medições precisas de movimento — começamos a desvendar a verdadeira natureza de Castor.
Primeiro, descobrimos que aquela estrela é, na verdade, um par. Duas estrelas orbitando um centro comum, separadas o suficiente para que bons telescópios consigam resolver essa duplicidade: Um sistema binário.
Mais adiante, com a ajuda de análises espectroscópicas, percebemos que cada uma dessas estrelas, por sua vez, também é um par. Suas assinaturas espectrais revelam movimentos de vaivém típicos de estrelas em órbita mùtua — pares espectroscópicos, invisíveis a olho nu, mas evidentes para a ciência. Agora já são quatro estrelas.
Por fim, um terceiro par, bem mais distante, expande a visão dessa dança. Trata-se de mais um binário, também invisível sem os instrumentos certos. Assim, o que parecia uma única estrela a olho nu revela-se, aos poucos, um sistema estelar sêxtuplo — três pares de estrelas gravitacionalmente ligados, compondo um dos sistemas múltiplos mais interessantes do céu visível.A hierarquia de Castor
Essas seis estrelas formam um arranjo hierárquico e delicado:
- Baricentro do Sistema
- Baricentro Castor AB: período orbital: 460 anos
- Baricentro Castor A: período orbital do binário: 9,2 dias
- 🌟 Estrela Castor Aa - A: branca da sequência principal
- 🌟 Estrela Castor Ab - Anã vermelha
- Baricentro Castor B: período orbital do binário: 2,9 dias
- 🌟 Estrela Castor Ba - A: branca da sequência principal
- 🌟 Estrela Castor Bb - Anã vermelha
- Baricentro Castor C: período orbital estimado: 14 mil anos, período orbital do binário: 19 horas
- 🌟 Estrela Castor Ca - Anã vermelha
- 🌟 Estrela Castor Cb - Anã vermelha
Um balé em torno do invisível
Todos esses movimentos são regidos por um ponto comum: o baricentro, ou centro de massa. Diferente do que ocorre com a maioria dos planetas e luas do sistema solar (onde o centro está dentro do corpo do objeto principal), no sistema Castor, o baricentro de todo o sistema assim como dos subsistemas estão fora de qualquer corpo visível, pairando no espaço vazio. É em torno desses pontos que se desenrola a complexa dança gravitacional das estrelas de Castor.
Castor nos ensina que o céu guarda segredos que só se revelam a quem olha com mais atenção. À primeira vista, uma simples estrela em Gêmeos. Mas para quem insiste, pergunta e investiga, ela se revela como um intricado sistema de seis sóis — um lembrete de que, no Universo, nada é tão simples quanto parece.
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